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Será mesmo?

É isso. Talvez seja melhor aceitar que a resposta não vem. Ou que a resposta na verdade nem existe. É difícil estar encarcerado, olhando para todos os lados, na esperança de perceber o que ainda pode ser, mas não há nem lá e nem em lugar algum. Aceite esse fato.  T odas as minhas amigas já disseram que quando é assim, o melhor a fazer é tentar respirar, porque aí o cérebro oxigena e a gente pode tentar inventar uma saída melhor. Mesmo que não seja definitiva, ou  àquela pela qual se mereça o prêmio Nobel da paz, mas que seja pelo menos suficiente para dar um pouco de paz, para pés cansados e desanimados de caminhar em vão. Uma delas chegou a falar de carma. Tentei acreditar, mas não consegui. Não porque não merecesse crédito o que ela diz, porque merece muito, mas me recuso a acreditar que não tenho alternativas. Também porque tenho, logo eu, que ter um carma tão triste, se meus vizinhos, amigos de escola e colegas das aulas de balé são tão felizes e o tempo todo?...

Controvérsias

Até hoje não consegui descobrir se quem sofre de taquicardia tem o coração fraco ou forte, afinal, conviver com essa guerra dentro do peito não é para fracos, ou é? O coração é mesmo um órgão complicado de lidar, quando você precisa que ele se aquiete, ele se agita e quando precisamos que se acalente, nos olha com desdém .   É comum citarmos o coração no sentido figurado, falando do lado emocional de cada pessoinha que somos quando na verdade essa nossa capacidade de chorar provêm do cérebro, distante daquela parte racional que utilizamos para ler as notícias de economia do dia. Aliás, li hoje uma manchete no jornal, tão criativa que me recordei do seu senso crítico apurado para as políticas e economias. Dizia assim: “Crise mundial: Economia Brasileira Embarca no Voo 447”. Foi inevitável, mas cai na risada... (você me condenaria por isso que eu sei ). Mas voltando ao nosso coração. Falo aqui é do coração mesmo, aquele de carne, que fica “do lado esquerdo do peito”...

Sem mais

Não podia acreditar que ele me traia daquela forma. Não uma traição carnal ou física, daquelas em que cedemos aos nossos desejos menos prodigiosos.  Não. Ele traia minha confiança, minha intuição. Olhou fixamente nos meus olhos e deliberadamente, sem receio de deixar que a sujidão de uma alma velha e rota transparecesse, sem  maiores  problemas ou dificuldades, disse: - Meu bem? - anh? - Sabe aquela erva cidreira que plantou lá no jardim? - Sei. - Ela está deixando nosso jardim tão feio! É feito mato crescendo em meio às flores... Observei. - Poderíamos plantar orquídeas lá, ou margaridas. Ah! Margaridas são tão vistosas... Como se ele não soubesse, ou preferisse desconhecer, nossa própria feíura. Estamos a enfear esse mundo, essa casa, nossa cidade, a própria vida... Respirei . - Meu bem, você sabe que as ervas são boas pra mim.  Nos dias de inverno, principalmente, quando nada mais pode me aquecer o corpo e me falta ar nos pu...

APANHADOR

Preciso de uma história para contar. Que não seja necessariamente uma história minha, mas que só por hoje, não fale sobre adolescentes mortos, vítimas da arquitetura do tráfico de drogas, ou sobre homens velhos e pedófilos aliciando crianças pobres e famintas. Preciso contar uma história que alimente os sentimentos mais nobres de um ser humano, que consiga atingir um recinto superior na alma do reles mortal, que acompanha o site de notícias locais, atualizando-o de cinco em cinco minutos. Uma história que não relate nada sobre desafetos amorosos ou pesquisas científicas, que constatem o quanto estamos perdidos nesse planeta, batendo nossas cabeças nas paredes, tateando espaços possíveis para encaixar nossos egos, que são maiores do que supomos e infinitamente mais carentes de humildade do que podemos admitir. Não. Não precisa ser sobre como a vida do vizinho vai mal, ou como definha a política monetária nacional. Nada sobre empreitadas frustradas de paz, supostamente travad...

pão-doce-de-açúcar

Ele trouxe pão-doce-de-açúcar, me recordo como se fosse hoje como estavam macios!  Eu então peguei o meu, passei margarina e corri para o quintal, para “esquentar sol”, como vovó até hoje diz.  Na casa vizinha à minha, no canto direito, moravam quatro mocinhas pouca coisa mais velhas que eu e infelizmente a condição de vida das mocinhas impediam que elas tivessem um pãozinho sequer para comer de manhã: o pai era doente, acamado e a mãe trabalhava o dia todo para tentar alimentar as garotas, que ficavam o dia inteiro olhando para o horizonte, à espera de qualquer coisa que hes pudesse satisfazer as necessidades. Lembro de ter visto em um morro, de um bairro vizinho, vários objetos brancos esparramados. Após tentar de todas as formas desvendar o que poderiam ser aqueles objetos e não me contentando com minha simplória dedução resolvi perguntar para uma delas: Tianinha? Você sabe o que é aquilo lá em cima? Aquilo branco lá no morro? Ela respondeu rapidamente que sabia!!! Fiqu...

Só agora entendi

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Da primeira vez que nos vimos, confesso te achei meio desconexo, estranho e convencido demais, nem merecedor de tanto barulho. Talvez pelo fato de a idade me impedir de entender que aquela sensação de sufoco que sentia no ar é justamente o artifício que você usa para embriagar seus convidados. Entendi que aquela vontade que tive de chorar, quando menina, não foi porque estava longe de casa e me sentido desprotegida, essa vontade foi provocada pelo encontro de mim comigo mesma em Copacabana. E aquela sensação de querer fugir com o mar - Ah! Essa foi mais desconcertante, será vovó, que tenho lido contos demais? Não, não tinha... Ela transbordou em mim novamente e se não fosse forte o bastante teria cedido, e ido, e me entregado, e me perdido... As silhuetas das montanhas, essas me lembravam que havia gostado, elas não mudaram de lugar, como aquelas flutuantes da mulher que outrora ali era criança. Caminhei descalço por sua imensidão, sem vergonha de pedir que me desse tudo o que fosse p...